2005-02-03

 

Meio desligado

Ando meio desligado. Não é só o trabalho, mas também as más notícias. Mais as pessoais, do que as do Mundo.

As eleições no Iraque foram a notícia mais encorajadora da semana. Foi bom vêr-se aqueles que até aqui não tiveram nenhuma voz na sua própria circunstância, não só se tentarem apoderar de algum controlo sobre a mesma, mas também terem uma esperança palpável num futuro em que tal controlo seja mais efectivo.

Estou tão desligado, que nem a agressividade defensiva do MacGuffin me irritou – de uma forma construtiva, claro está – como é normal. Enfim, ao que saiba, a corrente contra a guerra no Iraque não foi (na sua grande maioria) baseada numa objecção à democracia! As eleições são um desenvolvimento fantástico, mas não legitimizam a guerra, nem todas as vigarices, muito menos as vítimas, a ela associadas. Dado que todos os outros argumentos para esta guerra falharam, o único ainda de pé será ver se o processo democrático no Iraque se reproduzirá na região. Espero sinceramente que sim, especialmente sem recurso a mais guerras – algo que os neocons gostam de utilizar como catalista, como se fosse um fermento como outro qualquer...

Comments:
Nunca entendi porque motivo não se consegue olhar para as coisas isoladamente. A História é assim, cheia de surpresas, de contradições, sem fios condutores que tudo expliquem e muito menos baseada no Bem ou no Mal Creio que as análises políticas, se forem realistas, conseguem separar todos estes vectores e não caírem na tentação de justificar planos com resultados díspares que não são mero resultado de plano estratégico. Só um plano Divino podia ser visto assim.

Havia a situação internacional e o apoio dos EUA à causa de Israel; havia como sempre houve a necessidade dos EUA continuarem a implantar os seus interpostos pelo mundo, por causa do isolacionismo; houve o 11 de Setembro e a legítima e necessária resposta a ele; depois a continuação para o Iraque usando das maiores gaffes de todos os tempos em matéria de legitimação internacional; depois a guerra a uma ditadura que também tinha todas as características para se desejar que acabasse mas que não estava em guerra civil para acabar. Depois a libertação desgastante e a ocupação em que se tornam públicos os actos de barbárie de Abbu Grahib que simbolicamente deitaram por terra qualquer ingénua ideia de considerar as guerras morais.
Depois mais lutas tribais, e mais lutas tribais e um povo a viver naquela confusão e outros tantos a morrerem naquela confusão. Depois umas eleições em que não há partido único e milhares de gente corajosamente a irem votar.

Que se pode depreender disto? Que as pessoas que vivem em guerra habituam-se a ela e possuem uma coragem que nós que nem sabemos o que isso, desconhecemos completamente.
Onde está a moral disto? Que as democracias se devem impor desta forma? Que as guerras se fazem por benesse e que não existem planos de interesses e estratégias de percas e lucros?
Que uma democracia se resume à coragem dos eleitores e que não é um processo lento de hábitos de liberdades e consagrações das mesmas por via constitucional e representativa?
Que pelo facto de assim não ser a guerra está legitimada?
Que pelo facto de assim não ser a velha ditadura está legitimada?

Ou pura e simplesmente que todas estas questões jogaram e jogam em paralelo e que a moral nunca é chamada ao caso em matéria de política internacional e apenas existe nas ideologias que olham para ela como trincheiras em que se procuram identificações maniqueístas?


É claro que se olharmos para isto tudo numa perspectiva hegeliana é possível encontrar-se sempre a acção do espírito e do progresso da humanidade.
O problema é que para o fazer, é preciso colocarmo-nos acima de todos os males de todos os crimes, de todas as injustiças e apenas olharmos para o tal utópico fim da história. Sem emoções, como é óbvio. Nunca à custa delas.
 

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